Após um período de férias, uns dias na praia e muita meditação eu descobri o Lagom, antes mesmo de saber que tinha esse nome.
Antes de contar minhas reflexões, trago um conselho:
"Vai viajar nas férias? Faça logo no começo! Não fique em casa, vendo as mesmas paredes, dormindo na mesma cama, com a mesma vista na janela. Tirar férias e ficar em casa faz com que seu cérebro demore mais tempo a se ajustar ao modo FÉRIAS. Por isso, se é pra viajar, mete o pé na estrada logo de cara, mude a rotina 100%, faça coisas diferentes e dê ao cérebro novas coisas para pensar e ao corpo novas coisas para fazer."
Fui para o litoral. Precisava descanso, pausa na rotina, ar puro e calma pra alma...
Nestes dias, me tornei observadora. Vivenciei outro ritmo de vida (tanto da cidade quanto o meu). Por estar na praia fora de temporada, passei a ver a cidade não pelo ritmo dos turistas mas, dos moradores: pessoas num cotidiano leve, num tempo próprio, cadenciado mais pela velocidade das bicicletas e dos pedestres do que dos carros e do trânsito.
Fiquei observando esse ritmo tranquilo das pessoas e comecei a refletir sobre pequenas coisas do cotidiano.
Refleti sobre ritmo de vida, a obrigação de ser feliz, bem disposto e motivado o tempo todo, a pressão por sempre ter objetivos e metas, trabalhar duro, ser sociável, estar bonito, aprender mais, ser ambicioso, adquirir coisas...
E nessa correria não vivemos o momento presente, não curtimos o que temos hoje, nem as pessoas ao nosso redor e os bons momentos, não contemplamos os detalhes: desaprendemos a DESACELERAR.
O que quero dizer é bem ilustrado na música Admirável chip novo, da Pitty:
"Pense, fale, compre, beba Leia, vote, não se esqueça Use, seja, ouça, diga Tenha, more, gaste e viva"
Voltei diferente, pensativa! Tive muitos insight's durante e após a viagem e agora acho que deveria ter anotado porque nem lembro de todos:
Porque somos tão julgados pelos sapatos que usamos?
Como será que vou estar quando aposentar? Vou ter disposição pra fazer tudo que tenho vontade?
Eu preciso de todas as roupas que eu tenho?
Porque a gente acumula tantos objetos? Estou num apartamento minimamente decorado, com apenas uma mala de roupas e não sinto falta de nada que ficou lá em casa. Será que preciso mesmo de tudo aquilo?
Fim das férias. De volta à velha rotina, confiro a caixa de email. Lá estava, disparado pelo blog Garota ao quadrado: LAGOM. Comecei a ler o texto e, de repente, bummmm!!!!! Tudo começou a fazer sentido.
LAGOM
é um termo sueco sem tradução na língua portuguesa, mas seria algo como bastante, suficiente, necessário, equilibradamente...
Lagom é um estilo de vida que prioriza a sensatez, fazer as coisas da melhor forma possível, sem exageros ou recursos desnecessários. Se emprega em todas as situações e todas as áreas, desde comida, trabalho, moradia, bem estar, experiências e situações.
Nesse mundo conturbado, com acesso interminável a informações e consumo, Lagom é abrandamento e libertação, é uma aversão aos extremos, é o desenvolvimento da moderação, da sustentabilidade e da consciência social.
Parte do princípio que a plenitude e a satisfação podem ser resultado do contentamento adequado, dando a devida importância a cada coisa na vida e não na busca constante por algo que você supõe que precisa adquirir; é a capacidade de saber dosar o egoísmo e o consumo excessivo.
Imagine o seguinte cenário: estamos conectados o tempo todo, com sobrecarga de informações e trabalho, consumindo como loucos.
Alguns buscam um corpo "perfeito" (seja por exercícios até a exaustão ou por dietas), corpo que, muitas vezes, é resultado de excessos anteriores, muitos buscam um carro mais novo, uma casa maior e melhor, um celular mais moderno, a nova coleção de moda, etc...
No meio de todo o consumismo, surge o LAGOM - para nos despertar sobre limites e equilíbrio, aprender a diferenciar o que QUEREMOS do que PRECISAMOS, repensar o que realmente importa, avaliar o que estamos consumindo por impulso e voltar nosso olhar para coisas mais importantes.
Linnea Dunne, autora do livro LAGOM - A arte sueca para uma vida equilibrada, recentemente traduzido em Portugal e (infelizmente) ainda sem data para chegar ao Brasil, contou um fato interessante.
Ao se mudar para uma casa menor, doou muitas coisas que acumulava, inclusive boa parte dos brinquedos dos filhos. Como resultado, os filhos passaram a brincar mais tempo juntos, apreciar melhor os brinquedos que ficaram e ela não sentiu falta das coisas que doou.
O estilo de vida LAGOM varia de acordo com cada pessoa e sua cultura, idade, momento de vida e muitos outros aspectos, mas uma coisa é invariável: para se posicionar frente à tudo é preciso pensar nos motivos que te fazem ficar estressado ou infeliz.
Analise o tempo e a energia que você deposita em cada acontecimento, objeto, situação ou ação da sua vida e, em seguida, observe se essa energia e tempo estão sendo aplicados adequadamente e da melhor forma possível.
Fato é que quando você começa a analisar os aspectos da sua vida e consegue determinar onde pode melhorar e se "livrar" do peso e da bagagem extra que carrega, tudo se torna mais leve e simples - como consequência dessa redução de sobrecarga você reduz o stress.
Leia também: Lagom nos setores da vida
O legal é trabalhar nesse conceito aos poucos e entender cada situação do cotidiano. Adotar o LAGOM não é uma mudança de vida radical, o objetivo é facilitar e não complicar. À medida que se torna mais normal fazer a análise e você começa a ver os resultados, percebe as pequenas mudanças que podem beneficiar sua qualidade de vida.
Ao adotar um estilo de vida LAGOM, é possível:
Reduzir o seu impacto ambiental;
Melhorar o equilíbrio entre trabalho e vida privada;
Libertar a sua casa de coisas inúteis;
Tornar-se um consumidor mais consciente;
Valorizar as relações com aqueles que ama;
Apreciar boa comida ao estilo sueco;
Produzir os seus próprios alimentos;
Desfrutar de exercício físico saudável na natureza;
Viver uma vida equilibrada e feliz.
Resumindo, esse "modelo" é um meio de viver em harmonia com as coisas ao seu redor, sem exageros e excessos, mas a chave é encontrar o equilíbrio pessoal nesse contexto. Não existe medida certa, não há manual de instruções, as referências variam de acordo com o meio, as condições e a situação na qual cada um vive. O que é bom para mim, pode não ser necessariamente bom para outra pessoa. O LAGOM não será padronizado e igual entre todos...
Então, o que acha de olhar ao redor e começar a repensar pequenas coisas do seu cotidiano, talvez você se surpreenda com o que pode começar a enxergar e passe a gostar desse novo estilo de vida.
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